Era um quarto vazio. Estava fechado. As pessoas jogadas no chão. Fulano enxergava como a luz: tudo amarelo. Nas paredes que o cercavam, só havia fumaça. A música alta guiava as bocas drogadas. Saiu do quarto. No corredor escuro, mais corpos sem dono, entrelaçados e violados. Sentou-se no sofá com o enjôo da bebida. Em silêncio, observou os rostos risonhos. Todos iguais.
Madrugada. Saíram do apartamento em grupos pequenos. O vento forte batendo no rosto e passos cambaleantes. Fulano sentia o corpo pesado. Os pés mal deixavam o chão, as mãos suavam, todo o corpo formigava. Parou e viu que o mar o encarava. Sem saber como, estava na praia.
Fulano sentiu sede. Sede e fome. De pizza, de sexo, de mãe. Sentou na cadeira de plástico e tragou seu cigarro. O cigarro o tragou. As luzes brancas dos postes quase o cegaram. Quanto barulho, quantos carros e buzinas. Mal percebeu que sua língua agarrava outra. O mesmo sentimento. A lúxuria bêbada e rotineira.
Nesse instrante, já não sentia os pés. Estava de novo sozinho. Os rostos alheios agora pareciam chorar. Fulano quis chorar. Afastou-se e deixou que o silêncio o levasse para casa. Deitou na cama e fechou os olhos. Agora, sentia as dores da cabeça acompanhando o ritmo acelerado do seu coração. No ouvido, um zunido quase insuportável. Nas pálpebras fechadas, um floco de neve roxo e verde. Na cabeça, o arrependimento. Virou para o lado e apagou.
Novembro de 2007.
Novembro de 2007.